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Dislexia


Antes de falar sobre a dislexia, para compreendê-la melhor, sugiro que você assista ao filme Como Estrelas na Terra: toda a criança é especial que narra a história de um

garotinho de nove anos, que sofre com as dificuldades com as letras e números na escola. É um filme excelente que proporciona muitos momentos de reflexão e compreensão desse transtorno da leitura. Você encontra o filme na íntegra no Youtube, no link abaixo.

Caso alguém tenha interesse na resenha e minha análise do filme, solicite por e-mail, pois nesse texto aqui não pretendo entrar nos detalhes da história, mas sim informar sobre a dislexia e proporcionar algumas reflexões.


Mas afinal, o que é dislexia?

A dislexia é um dos prejuízos que podem ocorrer no processo de aprendizagem, mais especificamente na leitura (e consequentemente na escrita), que pode ser pensada após sete anos de idade.

Há erros que a criança comete que são mais comuns, ou seja, obedecem a um padrão. Por exemplo, aqueles que são correspondências fonéticas próximas, como a-am, s-z, u-l, ou letras que são parecidas no formato, como b-d, p-q, ou ainda inversões como cri-cir, omissões como bar-ba, árvore-arve, ou adições e substituições de letras. Por essa dificuldade em ler, a criança acaba não compreendendo o texto em sua totalidade.

Essa dificuldade de leitura não implica em deficiência intelectual. A criança pode ter incríveis habilidades em outras áreas, como nas Artes, por exemplo, que devem ser valorizadas.

Mas o que se percebe, é que a dificuldade de leitura pode vir acompanhada de atrasos na linguagem, na locomoção e dominância lateral, mas que podem ser desenvolvidas ao longo do tempo se treinadas e estimuladas.


Mas quais são os sinais que a criança apresenta que podem indicar dislexia?

Os sinais são importantes ser observados tanto por pais quanto professores, pois são esses que acompanham a criança no seu dia-a-dia. Alguns deles são:

  • Dificuldade em aprender o nome das letras ou os sons do alfabeto;

  • Copia e escreve números e letras inadequadamente;

  • Dificuldades para organizar-se no tempo, reconhecer as horas, dias da semana e meses do ano;

  • Dificuldades para ordenar as letras do alfabeto e sequências de fatos/histórias;

  • Dificuldades em memorizar fatos recentes, como por exemplo, números de telefones e recados;

  • Dificuldade para entender instruções;

  • Dificuldades para organizar a agenda escolar ou a rotina diária;

  • Pouco interesse em escutar histórias;

  • Confusão direita-esquerda, embaixo-em cima, frente-atrás.


É importante comentar que a criança pode apresentar um excelente desempenho em atividades orais, e nas escritas um baixo rendimento, ainda que a atividade exija o mesmo nível de dificuldade em ambas.


Tendo essa dificuldade de ler e escrever, já posso considerar uma dislexia?

Não! É importante frisar que as dificuldades de leitura e escrita por si só não

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implicam necessariamente em dislexia. Para chegarmos a esse diagnóstico, é preciso primeiro descartar outros aspectos que podem estar interferindo na aprendizagem, como por exemplo: deficiência intelectual, atrasos globais do desenvolvimento, deficiências visuais ou auditivas, problemas neurológicos e motores, comprometimentos emocionais significativos. Também, essas dificuldades podem estar associadas a fatores externos, como falta de estimulação da aprendizagem, ausência de oportunidade educacional e ensino inadequado. Por esse motivo, para uma avaliação, é fundamental que sejam revistos todas as outras possibilidades que podem afetar a aprendizagem.


Se não houver um acompanhamento, quais os prejuízos que a pessoa pode apresentar ao longo dos anos?

Quanto mais tardio o diagnóstico, maiores os prejuízos, não somente na leitura em si, mas em outros aspectos do sujeito, como perturbações emocionais e afetivas. Isso porque, percebendo que os colegas apresentam melhores desempenhos nas questões escolares, a criança pode começar a ter baixa autoestima e momentos de muita frustração, como encontramos no personagem do filme sugerido. Esses problemas, se não tratados, podem ter consequências futuras e prejudicar até mesmo o convívio social da criança.

É possível que essas dificuldades em habilidade acadêmicas fundamentais (ler e escrever) possam interferir na aprendizagem de outras matérias como, por exemplo, história, onde o aluno precisa ler para compreendê-la. Na adultez, esses prejuízos de leitura podem acarretar problemas no desempenho do trabalho ou atividades cotidianas, causando desinteresse e evitação de atividades que exijam a leitura.


Como é feito o trabalho de diagnóstico?

Certamente, a forma mais interessante para a avaliação desse transtorno da leitura é a partir de um trabalho multidisciplinar, que inclua psicólogos, professores, psicopedagogos, fonoaudiólogos, neurologistas, oftalmologistas, entre outros profissionais, conforme o caso. Isso porque não necessariamente a apresentação dos sinais citados indica dislexia.


Outras considerações/reflexões sobre o filme e dislexia

Sobre a dislexia, é importante ressaltar que o fato de a criança não conseguir aprender, não significa que ela é “preguiçosa”, “malandra”, “desobediente”, mas sim que ela tem uma dificuldade, não fazendo de propósito. No filme, o personagem Ishaan diz que as letras “estão dançando”, impossibilitando sua leitura.

Além disso, é possível que a criança tenha outras habilidades importantes acima da média, como no caso de Ishaan. No filme, ele encontra um professor que enxergou suas capacidades e lhe mostrou que, mesmo com dificuldades na leitura e escrita, ele poderia aprender, evoluir e ter um futuro brilhante, lhe

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apresentando exemplos de pessoas que, apesar das dificuldades, avançaram e tornaram-se reconhecidas por outros feitos (ex: Leonardo DaVinci e Albert Einstein). Isso proporcionou maior motivação ao menino de seguir tentando, pois sentiu-se esperançoso, além de identificado com aqueles personagens famosos, podendo vislumbrar uma mudança na sua trajetória. É esse trabalho que precisa ser reforçado na aprendizagem, isto é, valorizar e estimular as habilidades que a criança possui, e de forma alguma diminuí-la perante aos outros.


Falando um pouco do personagem do filme, o menino Ishaan, devido às dificuldades encontradas na escola, às repreensões e piadinhas dos colegas, vai tendo sua autoestima diminuída, o que acaba provocando sinais de irritação, como no momento em que chuta os vasos de flores. Fico pensando que, para alguém que assiste a uma cena assim, não sabendo do contexto, já rotula a criança como “difícil”, “desobediente”, “agressiva”, etc. No entanto, é preciso sempre, antes de julgar, pensar a criança no contexto em que ela está inserida e que, possivelmente, algo não vai bem. Esta (chutar as coisas, por exemplo) é uma manifestação dentro do que a criança consegue expressar, em tentar de alguma forma mostrar às pessoas que ela precisa de ajuda, e não de alguém que lhe rotule ou julgue. Como dizia o sensível professor do filme, “os olhos de Ishaan gritavam por socorro”. Essa reflexão pode ser utilizada para qualquer situação em que o sujeito apresente alguma dificuldade, não importando em que “setor” da vida.


Também, é fundamental o apoio dos pais. Certamente, não é papel apenas da escola em orientar a criança, mas é da família também. A cena em que o professor diz ao pai de Ishaan o que é "se importar", é muito interessante. Para alguns, apenas saber “o que o filho tem”, diagnosticar, oferecer uma boa escola, já é sinônimo de se importar, quando na verdade o que é essencial é que os pais estejam juntos à criança e se interessem por ela, por seu mundo, por seus pensamentos e sentimentos.



Por Psicóloga Tamíris Kreibich



Referências:

Marcelli & Cohen (2010). Infância e psicopatologia. Porto Alegre: Artmed;


Martins & Capellini (2011). Intervenção precoce em escolares de risco para a dislexia: revisão da literatura. In: Revista CEFAC, 13(4): 749-755;


Olivier (2007). Distúrbios de Aprendizagem e de Comportamento. Rio de Janeiro: Editora Wak;

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